domingo, 2 de março de 2014

Não era para ser.

Não é para entender, é para admirar, contemplar, agradecer.
Não é para perguntar, é para aceitar, silenciar.
Não é para cantar, é para orar, respeitar, louvar.
Não é parar profanar, é para esterilizar, santificar.
Não é para ser vulgar, é para ser decente, puro.
Não é para rebolar, é para andar em linha reta.
Não é para titubear, é para provar sua fé.
Não é para mostrar, é para cobrir, esconder.
Não é para escandalizar, é para engolir em seco.
Não é para motivar, é para reprimir, podar.
Não é para libertar, é para guardar.
Não é para educar, é para convencer, converter.
Não é para quebrar, é para edificar.
Não é para festar, é para congregar.
Não é para carnavalizar, é para casar.
Não é para transar, é para procriar.
Não é para apressar, é para esperar, aguardar, ter paciência.
Não é para se deleitar, é para moderar.
Não é para ostentar, é para ofertar.
Não é para chorar, é para ser forte.
Não é para saber, a sabedoria desse mundo é loucura.
Não é para enfeitar, já é perfeito... ou pelo menos era para ser.
(Jéssica.)

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Discurso para os supimposos químicos.


Boa noite, meus caros! Que alegria poder compartilhar este momento histórico com cada um de vocês. Agradeço a presença de todos nesta solenidade que representa o ponto-final de apenas um pequeno capítulo na história de cada um destes digníssimos formandos em Química - Bacharelado em Química Tecnológica. Formandos estes, que tenho a grandiosa função de representar.
Eis que me pergunto: em que momento surgiu em nossas mentes inquietas a sublime ideia de cursar Química? Fazer ciência em um mundo que não se interessa muito em como as coisas funcionam, desde que elas funcionem. Fazer um curso difícil, que requer uma dedicação imensa, que um discurso de colação de grau, jamais será capaz de sintetizar. Lembrando que fazer ciência no Brasil é criatividade e capacidade de se adaptar a ambientes muitas vezes hostis! Quantas vezes durante uma prática não descobrimos que faltava reagente, que a estrutura dos laboratórios implicava em insalubridade, que o equipamento não funcionava ou que, na melhor das hipóteses, tinha apenas um para a turma inteira. Acochambramos aqui, fizemos uma gambiarra acolá, ajustamos dalí. Todos os percalços que tivemos pelo caminho nos torna ainda mais merecedores desta vitória. São muitas as variáveis que estavam envolvidas no processo, só posso afirmar que a entropia do universo fatalmente aumentou e que tudo, absolutamente tudo, foi irreversível e inesquecível. Entramos na graduação de um jeito, e hoje, saímos dela diferentes, melhores.
Dentro de nossa profissão, de nossa trajetória, enfim, de nossas vidas, que sejamos capazes de decidir. Que saibamos ponderar os prós e contras de cada escolha que iremos fazer e, assim, realizar a ação certa no momento mais propício. Dúvidas habitam nossos pensamentos: estamos preparados? Diploma, meus amigos, não é certeza. Digamos que o diploma abre uma porta, mas cabe a nós a tarefa de atravessá-la. Além do mais, ter um curso superior não torna nosso futuro retilíneo e certeiro, podemos mudar. Podemos alçar voos distintos. Indústria, licenciatura, pós-graduação, carreira acadêmica, empreendedorismo, perícia, outro curso superior, filosofia de butequim...  Nada se perde nem se cria, mas é nossa função transformar. Visando sempre um produto melhor que o reagente! Lembrando que é bom-tom traçar um objetivo para nossas vidas, fica mais fácil propor um mecanismo e as condições para alcançá-lo.
Ainda temos muito o que conquistar, mas não teríamos ido tão longe sem nossa amada família. Não teríamos nos encantado e nos motivado sem a paixão de ensinar dos nossos bons professores. Não teria sido tão divertido sem as amizades épicas que surgiram e cresceram no decorrer desta graduação. Teve algumas picuinhas também, mas tudo dentro dos conformes! Havemos de convir que é graças a vocês, família, amigos e professores, que chegamos até aqui. O que seria do sistema sem a vizinhança? Ninguém conquista nada sozinho e nós somos uma equipe, nós somos Bacharéis em Química!
Fazemos parte de um todo e negligenciar este fato é negar ao mundo o que aprendemos; é se omitir quando podemos e devemos de alguma maneira ajudar. Que tenhamos sempre o ímpeto de fazer o melhor e de nos aperfeiçoar. Clama-se por homens e mulheres que saibam fundamentar uma boa ideia, que sejam empreendedores e coloquem esta ideia em prática, que busquem novos horizontes, que invistam no seu país. O Brasil investiu em nós, somos uma parcela privilegiada em um contexto onde uma boa formação é quase um luxo, mas isso torna ainda mais urgente nossa participação para tornar este país, que ainda engatinha em tantos quesitos básicos, menos discrepante, mais justo, menos corrupto, menos burocrático. Quiçá, um país mais educado.
E só para finalizar, antes que este blá-blá-blá se torne enfadonho, quero lembrar que os últimos quatro anos já fazem parte do passado, não há mais o que decidir sobre eles. Só que para nosso deleite, ainda temos muitos anos para decidir sobre nossa história. Por isso, peço a cada um de vocês, que decidam por ser felizes, que decidam lidar com os problemas e não fugir deles, que decidam não negar as dificuldades e lutar por melhoras. Não fazendo greve e tirando férias fora de época, mas vivenciando a luta, abraçando a causa. Está sob nossa jurisprudência, ilustres químicos, exercer esta profissão de forma digna e honrosa, visando sempre otimizar o processo!

Orgulhem-se! Eu, particularmente, estou imensamente orgulhosa de fazer parte desta turma!
Muito obrigada!

(Jéssica.)

P.S.: faltou no final um "votem em mim" e um "chupa sociedade".

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Ponto final.

Questões que formam e dissipam, quase sempre sem uma resposta satisfatória o suficiente. Hoje, mãos gélidas escrevem nesta folha de rascunho sem se importar muito com a caligrafia e enquanto estas se põem a escrever, uma nobre pessoa começa a pensar nas peripécias que pode descrever de modo a encantar quem por um acaso parar para ler tais orações que interligadas buscam traduzir uma ideia, um objeto, um fenômeno, uma cena, um eu, um outro.
A busca por um assunto é delimitante, mas escrever aleatoriamente torna o autor um tanto quanto vago. Mas depois de reler o tópico frasal desse possível texto, nota-se que este não terá um tema muito coerente ou coeso ou objetivo. É a arte pela arte, é a arte isenta de funcionalidade, é o poema sem rima, é a pintura sem contorno, é a reportagem sem o fato.
Extremidades geladas e o movimento de deslizar o lápis sobre o papel não é suficiente para agitar a corrente sanguínea e esquentar as pontas dos dedos. É mentira o chavão:  “mãos frias coração quente”. Um coração bem aquecido tem uma mão alheia para entrelaçar com as suas e assim compartilhar calor. Atritar. É o atrito que mantém um coração quente.
Uma nova interrogação se forma e não se sabe quanto tempo demorará para se dissolver no éter desse universo. Paredes brancas dão uma notável sensação de que o ambiente é maior do que de fato é, ilusões, somente ilusões, as dimensões são as mesmas. Como terminar essa obra de maneira triunfal? Tem mais questões surgindo e outras tantas simplesmente sumindo; uma música berrada tocando, gutural suavemente estrondoso, uma guitarra já manjada e uma bateria alucinada. Guerra de todos contra todos, sem muito mais o que dizer, não saber quem está certo é intrigante: eu ou você, manter a dúvida é crucial em certas circunstâncias, não saber se essa é a circunstância é desesperador. Mas perante a juventude há tempo.
Deixar esse escrito sem começo claro com um final obscuro é um tanto estranho, não é o pretendido. Como não houve no decorrer dessas linhas nada de muito conclusivo não cabe ao último parágrafo concluir nada. Portanto esse texto chega ao seu fim simplesmente por terminar e o ponto final, neste caso, vem sem muita pretensão.
(Jéssica.)


P.S.: texto antigo e esquecido, estava escondido, mas eu o trouxe à tona.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Vizinhança.

Não sei ao certo o que me rodeia, não tenho muita paciência com os vizinhos, conheço mulambamente meu bairro, fujo dos conhecidos e dos colegas. Acredito que esse comportamento seja apenas parte da minha personalidade, não associo isso a algum tipo de sociopatia. Não alimento desejos de ser protagonista de massacres terroristas, creio que nenhuma ideologia me prenderia a tal ponto, isso não faz parte dos meus planos. Só que, na minha solidão, ficaria alegrezinha com o massacre de quem massacra sob o véu da moralidade.
Ora acho que a hipocrisia é natural e espontânea e inevitável e salutar, ora quero um mundo tão honesto que beire a escrotidão gratuita. A educação no nosso tempo é tipo uma divindade, pessoas educadas são cultuadas. Sinto falta de pessoas que vomitem sinceridade.
A falácia da estabilidade me move, nos movimenta. Cogitar o fim iminente é decretar falência às instituições éticas e morais; sem esperar o amanhã com suas trágicas consequências, seríamos ainda mais imediatistas, loucos e insanos. A inexistência da culpa não faz sentido, somos culpados desde os primórdios. Viver uma "estabilidade" é ter o dom de fazer vista grossa. Por isso não conheço os meus arredores, teria que me fazer de cega mais do que acredito que posso. Logo eu que abomino ignorância. A burrice eu perdoo, ser leigo em algo não é opção, é apenas uma consequência do determinismo: raça, meio e momento ditando quem você é. Ignorância, na minha humilde concepção, é o ato de ignorar, fingir que não viu, não ouviu, não sentiu, não degustou. Ignorância judia do meu bom humor. É triste.
Só que nesta história, tudo fica desconexo. Se não conheço a vizinhança, nada posso dizer sobre o meu sistema, já que não estou isolada. Estou imersa em um monte de tranqueira. Por mais que não queira, mais cedo ou mais tarde, me mesclo a tudo e me torno uma hipócrita ignorante. Não sou tão distinta, embora a educação nos ensine a lidar e respeitar as diferenças, são as semelhanças que me assustam.
(Jéssica.)

domingo, 23 de dezembro de 2012

Prática X Teoria



Nunca subestimei a teoria, nunca supervalorizei a prática. Há momentos que acho que se completam, noutros concluo que se excluem.  É algo semelhante a uma adaga, corta para os dois lados, apara ou cria quinas, mas é sempre de bom tom lembrar que arestas matam. Provavelmente seja esse o grande problema de uma das navalhas mais conhecidas na ciência, a navalha de Ockham, ela deixa extremidades bem pontiagudas. Afinar verdades pode ser algo cortante, por isso gostamos tanto de colocar lantejoulas e enfeites em situações originalmente opacas.
Acho magnífico quem compreende aquilo que faz, mas o ato mecânico parece ter um ibope mais considerável. É o preço da produção em larga escala. Talvez teorizando nos aproximamos daquilo que é etéreo, daquilo que é divino (por mais que algumas heresias surjam). Contudo, a prática nos mostra aquilo que somos e não somos, nossas limitações e mazelas, nossas conquistas e invenções, ela simplesmente nos mostra o quão distante estamos do perfeito. O rendimento prático nunca se iguala ao teórico. Por mais que a Teoria da Supercordas postule onze dimensões, só vemos três, por mais que isso dependa do nosso grau de lucidez.
Hoje minha inspiração me permitiu teorizar brevemente sobre a dualidade "prática versus teoria". Espero um dia possuir uma inspiração menos leiga para filosofar sobre o yin e o yang, o bem e o mal, o Deus e o Diabo, a verdade e a mentira, a métrica e os versos livres, o comportamento do elétron, a moral e a imoralidade, o tedioso e a teofania; espero poder conciliar essa inspiração com um saber mais concreto e analítico e prático. A maravilha de escrever é poder dar corpo para algo que estava somente no campo das ideias e, assim,  talvez as palavras supracitadas tenham algum significado físico para alguma alma vivente. A maior probabilidade é que essa ladainha seja apenas um blá blá blá chato e de difícil compreensão.
Enfim, devo praticar com mais afinco a arte de teorizar. Teorizar com menos alegorias a arte de praticar. Só não quero parecer um espírito superficial querendo desligar a teoria da prática.
(Jéssica.)

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Não tem desconto, é de graça.


Há uma porta estreita que muitos querem transpassar. Muitos adorariam poder alargá-la, mas esta passagem não permite reformas: é eterna e imutável, assim como quem a criou. Do lado de fora, inúmeras especulações de como é seu interior e quem ali habita ou habitará; imagens que acalentam o coração e a mente surgem. A miragem da perfeição livre da probabilidade do ressurgimento da iniquidade.
Existiu, em uma terra distante, um povo que quis alcançar a maçaneta dessa porta construindo uma gigantesca torre. Esse povo era muito obstinado, não demoraria e seriam capazes de tudo o que ousassem querer. Eles se entendiam, tinham o mesmo objetivo, falavam todos a mesma língua. Contudo a passagem não era para ser conquistada dessa forma. Eis que a Torre de Babel pariu a Babilônia e quem almeja passar pela bela porta ainda espera que quem lhes confundiu a língua também grite em alto e bom som: "Caiu! Caiu a grande Babilônia!". Quiçá, não há de demorar, toda confusão espiritual se dissipará. O angustiante é que no lado de fora da porta a confusão se diluí em um mar de fogo e enxofre e no lado de dentro em uma delicada e sublime paz.
Essa paz é surreal para meros mortais, inexplicável. A sabedoria desse mundo não é capaz de dissertar claramente sobre a paz e a vida eterna: é enfadonho e tedioso, é repleto de misticismo e alegorias. Sente-se mais à vontade para falar de tristezas e mazelas, a desgraça instiga a audiência. Há muitos medos e anseios pessoais. É difícil, é muito difícil compreender o que não se vê, o que não se toca, o que não se cheira, o que não se prova com os sentidos deturpados pela queda humana. O príncipe desse mundo faz questão da cegueira, da alienação.
Enquanto isso, lá de dentro da porta, há um clamor genuíno: "entrem, é de graça". Só que a malícia leva a incredulidade; quando a oferta é alta, o santo logo desconfia. Muitos querem atravessar a porta, mas não há alma que mereça tamanha dádiva. Nenhuma obra, nenhuma estrada, nenhuma torre, nenhuma indulgência, nenhuma invenção humana conduz a enfeitada e bela Nova Jerusalém. Bons frutos e boas obras para a tola sabedoria mundana pode não significar grande coisa sob a perspectiva divina. Paradoxos que atormentam.
"Entrem, é de graça. É dom gratuito, não está sujeito a inflação. Não há dinheiro que pague, não há mérito próprio, não há merecimento. Entrem, é de graça." A porta ainda está aberta, embora seja estreita. Talvez o mais sensato seja agir e pensar "magro", afinar nossos desejos e buscar passar por essa santa porta da graça. Mas há sensatez em um coração humano tão sujeito à falhas?
(Jéssica.)

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Diário.


Um diário, tudo o que não se precisa. Escrever é obrigar-se a organizar em linhas embaralhadas um conjunto de pensamentos presos em sua mente, é simplesmente exteriorizar algo que talvez se tornasse obtuso com o passar dos anos. É comum notar uma verborragia enfadonha que costuma surgir conforme as frases vão se estruturando; tudo é jogado em uma folha de papel e você vai ficando perplexo com sua capacidade de escrever, pois é apenas uma questão de começar.
O primeiro dia do diário é tímido, se esconde os melhores fatos e os pensamentos mais instigantes com medo do que aquelas palavras podem revelar. Palavras são revelações, palavras são ferramentas que desafogam a memória, palavras são desejos ou repúdios, ficção ou biografia, palavras podem ser nada, palavras é um vácuo quântico prontinho para desencadear o surgimento de um novo universo (um novo verso). Há palavras inspiradas por Deus, revelações metafísicas que se tornam compreensíveis através de narrativas, história de grandes mártires, parábolas proferidas pelo Filho Unigênito.
Um diário que destrinche o que é o amor seria algo épico e catastrófico. Um diário que em um dia do ano aborde sobre os amores velados que nunca serão revelados, noutro dia sobre os amores perfeitos que invalidam o amor real, noutro sobre os amores que se escondem usando a máscara da amizade, noutro sobre o amor platônico que teme a realidade e, quiçá, sobre os amores que se consumam e se consomem com o passar do tempo. Comparações sobre as diversas facetas do que se chama amor, o amor com finalidades carnais e procriativas. Esse diário está em falta no mercado, quem o possui deveria compartilhá-lo com os colegas humanóides; quem viveu amores ou encontrou apenas um grande amor poderia escrever sobre, mas isso é tudo o que não se precisa.
Um diário é algo muito intimista e está desvalorizado no atual contexto socioeconômico. Os grandes acontecimentos rotineiros não são dignos de nota e todo pensamento se esvai com uma rapidez doentia. Muitos levam a sério o que é temporário e fútil, poucos se aprofundam naquilo que na realidade "não precisa", não é de suma importância. "Não precisa disto, não precisa daquilo, abstrai esse sentimento, racionalize água, não seja abrangente, seja especifico, seja sucinto, seja direto."
Deixar a divagação de lado é assassinar o diário. Diário é monólogo e quanto mais rico for esse bate-papo do eu e eu-mesmo, mais os diários deixarão de ser desnecessários e se tornarão um afago à alma, um carinho sincero a si mesmo, uma masturbação intelectual com direito a clímax.
(Jéssica.)